História do Skate Poético
Skate e Poesia podem andar - ou deslizar - juntos! Esta é a ideia de um projeto social surgido de um skatista, professor de Educação Física e morador do Jardim Romano, na periferia da cidade de São Paulo. Seu nome é Nanderson Silveira dos Santos, mais conhecido como Nando. Segundo ele, o Projeto Skate Poético (PROSKAP) começou no ano de 2016, inicialmente com a ideia de oferecer aulas de skate e produção de poesias para crianças e adolescentes do Jardim Romano, bairro carente situado no extremo leste da periferia de São Paulo.
Nando explica que, para entendermos melhor a gênese deste projeto, é necessário retornar alguns anos no tempo, ou melhor, ao ano de 2004. Pois foi neste ano que ocorreu as eleições para a prefeitura de São Paulo, sendo que a atual prefeita à época, Marta Suplicy, prometeu, caso fosse reeleita, a construção do Centro Educacional Unificado (CEU) Três Pontes, no bairro Jardim Romano. Entretanto, esse fato não se consolidou naquele momento em função da vitória do candidato da oposição, José Serra (PSDB). Mesmo assim, essa promessa, segundo ele, fez surgir o sonho de uma pista de skate no local, uma vez que todos CEUs construídos pelas administrações petistas contavam com pistas de skate em suas dependências.
Passados quatro anos, no dia 31 de agosto de 2008, fora inaugurado o CEU Três Pontes, sob a administração do vice de Serra, Gilberto Kassab (DEM), mas sem nenhuma pista de skate. A partir dessa conjuntura, surgiu um movimento dos skatistas locais com o objetivo de reivindicar um espaço qualquer para à prática do skate na região. Porém, somente em 2014, depois de muito diálogo e insistência, foi cedido pela diretoria do CEU Três Pontes uma quadra poliesportiva e um espaço para guardar os obstáculos de skate (rampas, "caixote", corrimãos etc.) feitos de madeira.
Assim, foi nesse contexto de luta por espaço e reconhecimento que surgiu a ideia de dar aulas de skate e, por conseguinte, em 2016, foi desenvolvido o Projeto Skate Poético. Nesta época, Nando explica que estava escrevendo com frequência poesias e também frequentando Saraus de "poesias periféricas" em seu bairro; e em função disso, embora a ideia ainda estivesse pouco madura, surgiu o objetivo de unir skate com a prática da leitura de poesias, visto que esse gênero dá mais liberdade e é mais fácil de ser trabalhado com crianças e adolescentes, pois permite ir além da norma culta da língua portuguesa (recurso conhecido como licença poética).
Na época, o projeto já contava com oficinas de customização de skates, rodas de conversa, saraus e pequenos campeonatos de skate. Contudo, as atividades aconteciam de maneira muito esporádica. Foi somente em 2017 que o projeto começou a ter um calendário organizado. Isso ocorreu quando Kevin Nascimento da Silva (skatista e professor de História no município) passou a integrar o projeto Skate Poético e, com a sua ajuda, foi possível revisar o projeto original e incluir mais oficinas, como a de mercenária e de produção de "shapes sustentáveis", essa última ainda em fase de experimentação. Neste mesmo ano, logo após a entrada de Kevin, Rafael Souza Alves Diniz (skatista e também professor de História do município) se voluntariou a participar, fechando a equipe atual. De lá para cá, o projeto amadureceu, expandiu e conseguiu se sustentar com periodicidade e um bom número de participantes fixos.
Atualmente, Nando conta que ainda utilizam a quadra poliesportiva do CEU Três Pontes para as aulas de skate, rodas de conversa, leitura e interpretação de textos, sendo que o projeto passou a contar também com oficinas de marcenaria (em que os alunos aprendem a construir seus próprios obstáculos de skate); oficinas de customização de lixas (na qual os alunos aprendem a criar estêncil com uso de ferramentas manuais e digitais); oficinas de fabricação de shapes sustentáveis, jogos e brincadeiras.
Sobre os desafios atuais para a continuidade deste projeto, Nando explica que como se trata de um projeto independente e que atua no extremo leste da periferia de São Paulo, eles não contam com nenhum apoio governamental, nenhuma política de fomento ao esporte, lazer e educação e nem com recursos privados. Evidentemente, em virtude disso, eles tem algumas dificuldades, sobretudo para a aquisição dos utensílios próprios de skate, como shapes, rodas e equipamentos de segurança, pois aos poucos, os skates montados com peças usadas já não são mais suficientes para atender a demanda crescente de novos alunos. Em razão disso, ele explica que separam os alunos em grupos, de acordo com a idade e nível de habilidade, e fazem um rodízio para o uso dos skates. Também faltam livros suficientes e significativos para atividades de leitura e escrita, bem como materiais para atividades lúdico-recreativas. A maior parte dos materiais que usamos, explica Nando, como poemas impressos em papel sulfite, cones esportivos, bambolês, skates e equipamentos de segurança, são comprados com dinheiro do próprio bolso e/ou com rifas que organizamos junto à comunidade.
A falta de apoio prejudica, por exemplo, quando eles se organizam para fazer passeios às pistas de skate de outros bairros ou em museus, pois nem todos alunos conseguem ir, devido à falta de dinheiro para a passagem de trem e/ou ônibus. Por isso, este ano começaram a buscar informações de como formalizar e regularizar o projeto com o intuito de conseguir recursos públicos e/ou privados para a aquisição de skates, equipamentos de segurança, livros de poemas/poesias e outros materiais para a realização das demais atividades. Por esse motivo, recentemente responderam a um formulário realizado pela Confederação Brasileira de Skate e a ONG Social Skate, o qual tinha como objetivo mapear, conhecer e colaborar com ações sociais em todo Brasil que utilizam skate como ferramenta de inclusão social.
Referencias:
Texto retirado do site "História (as) do Sport", Skate Poético: um projeto social na periferia de São Paulo / SP, e foi escrito por Leonardo Brandão.